Monday, November 7, 2011
Um dia improvável...
Que dia mais insano que passei em Istambul. Programei um dia calmo
com pouco para fazer. Começava pela Universidade e fazer o caminho de
volta até ao Grand Bazaar. Mas parecia que o azar ia ser o mote do dia. À
primeira fotografia descubro que não tenho bateria e chego ao mercado
para o encontrar fechado. Back to the hostel e aproveito para tratar do
próximo destino: Cappadoccia.
Já
com a bateria carregada, aceito o convite do Sol de Outono e volto à
rua. Não tinha nenhum foco em particular. A imagem de uma Nargile em
Tophane leva-me ao elétrico, mas decido sair a meio. Culpa do mar que me
atraie cada vez m
ais.
Nunca tinha estado numa cidade cortada por um mar e o seu azul escuro
fascina-me. Lembro-me que ainda não tinha visitado o Spice Bazaar e por
isso começo o meu dia por aí. Também está fechado. Mas as ruas apertadas
que o ladeiam fervilhavam de comércio e perco-me por lá. Sigo a
multidão que vai parando pelas bancadas de mercadorias. Existe um pouco
de tudo: bijuterias, sapatos, lenços, doces ou especiarias. Os
vendedores competem por ver quem tem a melhor voz e capta mais a
atenção. Vou saltando de rua em rua, seguindo ao acaso. Escolho a
insegurança e sigo pelos caminhos que chamam por mim.

Sento-me
um pouco num dos inúmeros bancos que existem. O que fazer agora? Abro o
meu guia e reparo que ainda me faltava ir a Istanbul Modern, um espaço
para arte contemporanea. De moedinha na mão (aqui os bilhetes são moedas
de plástico) lá sigo para Tophane.
Agora
dou por mim numa zona deserta e silenciosa. Nem parece que estou em
Istambul. Por aqui o único habitante que encontro é um ou outro gato que
me ignora por completo. Esta cidade é uma cidade de gatos. Cada um com a
sua personalidade: encontramos os tímidos, os preguiçosos, os vádios e
os descarados. Dão um tom único a uma cidade que parece cuidar deles.
Dou-me
por vencido e decido procurar ajuda. Não me apetecia andar horas até
chegar a um ponto conhecido. Orientação recebida e dou por mim na zona
de Sultanahmet.
Aqui já não são os habitantes locais que dominam mas sim os turistas. A agitação das máquinas fotográficas, as poses e os guias são os actores deste palco histórico.
Aqui já não são os habitantes locais que dominam mas sim os turistas. A agitação das máquinas fotográficas, as poses e os guias são os actores deste palco histórico.
Chego
e descubro que é altura de Istanbul Biennial, um ponto de encontro em
Istanbul entre artistas de diferentes culturas criado pelo İstanbul
Foundation for Culture and Arts. Este ano as obras combinam arte com
politica. A forma artistica como expressão politica é algo que admiro
bastante. Adorei o espaço clean e eficaz, e algumas obras
surpreenderam-me, quer pela sua originalidade, quer pelo seu carácter
inovador. Uma que me tocou em particular foram os desposos de uma
demolição na Palestina. Um sapato, uma gaveta ou uma colher relembrava
que mais que tudo este é um conflito humano. Sem dúvida uma exibição
muito bem conseguida.
Altura
de relaxar. Saio deste espaço para entrar num dos inúmeros cafés e
recordo este meu dia insano. Só nesta cidade é que uma pessoa passa pela
agitação medieval do comércio de rua, entra em ruas desertas
semelhantes a uma aldeia, volta à agitação de um pólo turistico,
encontra a modernidade artistica e termina a relaxar num hábito milenar
de fumar um cachimbo de água. Até parece bom demais para ser verdade.
Alguém belisque-me, por favor...