Agrupamento de Escolas de Almeida

quinta-feira, 31 de maio de 2012

No-Mad - Post 14: Pela tua mão... / Dubai

Sunday, December 4, 2011

Pela tua mão...


Pela tua mão encontro algo único. Estou cego, mas a tua mão gentil guia-me. Ouço vozes e sei que estou num sala. Sinto as rugas da tua mão. Está marcada pela experiência de uma humanidade. Sei que posso confiar. Decido deixar-me ir e descobrir o que me queres mostrar. Sento-me e a palavra “chay” já me é familiar. Sinto o montar de algo à minha frente. O som metálico a bater na madeira prova-me que estão a colocar uma mesa. Tu guias-me até lá. Obrigas-me a abrir a minha mão e descubro o que pretendes: oferecer um tecido.

Ao primeiro toque, noto o aveludado de uma simpatia persa. Aquele conforto que encontrei no café tomado na companhia de um contador de histórias. Ali, no meio do nada, apenas os carros quebravam a nossa conversa. Nesse momento, não existia um turista e um guia. Eramos dois seres humanos a partilhar uma boa conversa e um café que aconchegava a alma e expulsava o frio do corpo.

Prossigo para ver que outros pedaços de tecido me ofereces. Este é mais àspero, quase agressivo. Sinto que não quer que lhe toque. A minha mão está a mais. Como eu na manifestação que celebrava o aniversário da polícia que controla a moral. Era na bela praça Khomeini em Isfahan. A mesma que uns dias antes me tinha acolhida tão bem. Agora o véu negro, como o preconceito, cobria as mulheres e os camuflados fardavam os homens-meninos. Era uma festa que não partilhava e expulsei-me dessa praça.

Levas-me para o próximo pedaço de tecido. E agora é tão diferente. Tornou-se leve. Deixa passar o ar fresco e confortante de uma conversa à beira rio. Livre de preconceitos ou morais. Um momento intemporal e sem geografia. A não ser a dos nossos sonhos e emoções. Por aí senti uma vez mais a hospitalidade das pessoas que vivem cá. Algo que me tocou com toda a profundidade. Que humildemente agradeço com a certeza de não conseguir retribuir tão generoso presente.

Já não preciso que me guies. Prossigo sozinho, com vontade de descobrir o que mais existe. Sinto que ao passar a minha mão por este novo pedaço, o tecido emite um som especial. Tão especial como ouvir o chamamento para uma oração dentro da Mesquita Iman. Passeio-me sozinho pelos seus amplos claustros e o som torna-se transcendental. A melodia daquelas palavras não chega aos meus ouvidos mas à minha alma. É poesia encarnada no som. Sinto-me elevar para um outro estado, para uma outra consciência. Passeio-me com a melodia na minha cabeça e apenas desperto para o som da flauta que toca no salão musical do palácio Ali Qapu e me embala para outro momento de contemplação.

Penso que mais belo tecido não poderá existir e eis que a minha mão toca um último pedaço. Não tenho palavras para o descrever. É do mais puro que pude sentir. Mexeu comigo. Mudou-me. Tremo a pensar nele. Seria um crime, neste estágio, tentar fazê-lo...

Recupero por fim a minha visão. Vejo o que a minha mão sentiu. Um tecido completo de momentos, bordados na perfeição num país a que chamamos Irão. 
 
 

Tuesday, December 6, 2011

Dubai


Dubai apareceu na viagem como curiosidade zoolófica. Um oportunismo de uma viagem entre o Irão e a India. Queria conhecer esta polis criada no meio do deserto.

Logo no aeroporto tive a noção de que estava num mundo muito diferente daquele donde vinha. O cenário amplo e polido do hall do aeroporto transmitia-me a sensação de estar num hotel de cinco estrelas. Por momentos até poderia imaginar que estava numa qualquer cidade europeia. À minha volta não existia um véu e tudo parecia organizado. Claro que o check point da alfândega, com o seu aviso a determinadas regras de conduta, fez-me voltar à realidade.

Como tinha pouco tempo, acabei por escolher fazer uma das atracções da cidade. Neste caso o Burj Al-Khalifa, maior prédio do mundo. Já que fosse para fazer algo, que fosse algo apenas possível no Dubai. E tomo consciência que este deve ser o pensamento dominante. A sensação é de que as pessoas quiseram criar um sitio único, uma experiência unica. O que conta é ser o mais ou o maior. Coisas que o dinheiro possibilita.

Depois de sair do funcional metro do dubai, tenho a minha primeira visão sobre este lança apontada ao céu. Impressiona, como impressiona a quantidade de prédios ainda a serem construidos. Ao lado das residências encontro monstros de betão e vidro. Passo pelo Armani hotel – luxo, luxo, luxo - e sigo a asseada rua que me leva ao Dubai Mall – o maior do mundo – porta de entrada para a escalada.

Lá dentro, a modernidade saúda-me. Esqueço a minha faceta de simples viajante e vagueio-me como turista. Afinal, aqui é o que sou. E com o bilhete na mão lá vou sorridente para o elevador. É a primeira vez que subo a um arranha-céus. Tenho curiosidade de descobrir qual a sensação. Um homem vestido de árabe mostra-me o caminho. Partilho o elevador com outros turistas, e quando a subida começa, sinto que não é um elevador qualquer. Quer a pressão nos ouvidos, quer a contagem vertiginosa dos andares, dizem-me que este consegue atingir uma grande velocidade. Chegado ao topo, tenho uma ampla visão dos emirados. Um cidade plantada entre o deserto e o mar.

Não consigo deixar de ter a sensação de uma cidade artificial. Algo construído para satisfazer o ego de quem a criou. E apesar de todo o luxo, toda a modernidade e toda a perfeição sinto que esta cidade não pertence aqui. Quase que parece o recreio de seres humanos cheios de dinheiro. Desço uma vez mais pelo elevador. Sigo direto para a rua. Já vi o que tinha a ver. O momento é para estar um pouco a observar todo o luxo antes de regressar ao corre-corre da viagem. Não dou o meu tempo por perdido. Julgo que é necessário ver isto. Ver todo o luxo o que o dinheiro pode comprar. Acho que só assim se pode compreender melhor a natureza humana.

Mesmo antes de partir, um bom momento. No aeroporto um árabe despedia-se da liberdade do Dubai o melhor que podia. Celebrava efusivamente os ultimos momentos enquanto trocavamos umas palavras. Descubro que a vontade de liberdade é cada vez mais comum por estes lados...

 

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Best WordPress Themes